terça-feira, 26 de novembro de 2019

Música e autismo: uma dupla que dá certo!!


O autismo é um universo desconhecido por muitas pessoas. É um transtorno que desafia a
ciência, por ser complexo, ter causa desconhecida,diferentes graus que apresentam tanto
crianças que não conseguem falar, quanto outras que apresentam habilidades extraordinárias.
Geralmente, quando os pais descobrem que tem um filho autista, se sentem bem confusos e
temerosos, principalmente em relação ao grau do transtorno.
Os estudos mostram que a rede de neurônios que coordenam no cérebro a comunicação e os
contatos sociais, são organizados de uma forma diferente em autistas. O transtorno afeta quase
todos os aspectos do comportamento humano: a fala, o interesse por amizades e vida social, os
movimentos do corpo, as emoções e interações.
O autismo deve ser diagnosticado precocemente, por meio de testes de comportamentos e
questionários respondidos pelos pais. Sabemos que a plasticidade cerebral (estrutura cerebral
que é capaz de se modificar de acordo com os estímulos recebidos) é muito intensa dos 0 à 6
anos. Nesta fase inicial, o tratamento apresenta melhores resultados. Depois disso, as
deficiências são agravadas, portanto, é essencial buscar ajuda caso a família perceba índicos de
autismo no seu filho, que são eles:
Atrasos na fala;
Olhar distante. Muitas vezes não responde quando é chamado pelo nome;
Não interage a estímulos afetivos como um olhar, um abraço ou um sorriso.
Atitude ausente;
Quando bebezinho, não estica os braços para ser tirado do berço. Muitas vezes para chamar
atenção prefere fazer movimentos repetitivos;
Brinca de forma sistemática, não lúdica. Ex: Em vez de interagir com o boneco (mundo da
imaginação), prefere alinha-lo a outros brinquedos, enfileirando-os;
Na presença de outras crianças se isola, por falta de interesse.
Ao perceber estes indícios, os pais devem procurar ajuda de um especialista, pois só ele poderá
dar o diagnóstico. O tratamento do autismo é multidisciplinar (envolvendo psicólogas,
psicopedagogos, terapeutas comportamentais, etc) e deve ser iniciado o mais rápido possível,
pois o autismo traz uma série de fatores aliados. É importante a união e colaboração de todos
que tem contato com a criança autista, principalmente da família, além de muita paciência e amor
pela criança durante o processo, que muitas vezes, dependendo do grau do transtorno, é lento.
Respeitar o tempo e o limite da criança é muito importante, mas sem deixar de trabalhar as
dificuldades. É importante ensinar a criança autista, que para um relacionamento funcionar, são
necessários pequenos gestos de gentileza (contato visual, cumprimentar as pessoas,
conversar,etc.). Indivíduos autistas não possuem estas habilidades, mas é algo que pode ser
aprendido, apesar de para eles, não ser algo natural e prazeroso.
Apesar de ser um transtorno incurável, as pesquisas mostram que existem muitos autistas que
por terem boa assistência durante a infância, cresceram, se desenvolveram muito bem e muitos
inclusive apresentaram inteligência superior em certas áreas, se destacando no mercado de
trabalho.
O fato de pensar de uma forma muito lógica, faz com que muitos autistas tenham muita facilidade
em matemática e em música. Aliás, cada vez mais estudos apontam a música como ferramenta
poderosa para desenvolver habilidades, inclusive em crianças autistas. Somos estimulados
através dos sons (matéria-prima da música), desde o quinto mês de vida intra-uterina, quando
nosso sistema auditivo está apto para receber informações. A música é interessante para a
criança desde sempre e isso é maravilhoso, porque a motivação (vontade e interesse em querer
aprender o conteúdo) é essencial para a construção da aprendizagem. Os pais dos autistas
geralmente recebem orientações, para que estejam atentos aos interesses do seu filho, porque
ao descobri-los, poderão utiliza-los como links para desenvolver diversas habilidades. A música é
sem dúvida uma destas pontes, que atraem a atenção da criança autista e que é uma facilitadora
de aprendizagens. Estudos de ressonância magnética funcional, apontam que a música causa
um efeito único em pessoas autistas, principalmente como intervenção terapêutica. A música,
quando utilizada de forma adequada, é capaz de relaxar, trazer sensação de bem-estar, o que
pode auxiliar de forma natural, no tratamento em conjunto com outras terapias. Outro fato
importante, é que pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), apesar de terem grande
dificuldade em perceber sentimentos nas expressões faciais, são capazes de perceber
sentimentos de alegria e tristeza em uma peça musical, ou seja, os sentimentos de uma peça
musical torna-se mais claro para um sujeito com TEA do que a visualização de expressões
faciais. A música tem o poder de ser uma facilitadora de comunicação, mas para que o autista
seja realmente beneficiado, com resultados à longo prazo, é necessário que a música seja
utilizada de acordo com os interesses da criança, com um professor que realmente conheça as
especificidades do transtorno e que saiba utilizar técnicas de musicoterapia (terapia alternativa
que utiliza a música como ferramenta para desenvolver habilidades e objetivos pré-estabelecidos
no indivíduo). Nas aulas, são utilizadas atividades que promovem um vínculo de respeito e
confiança entre o aluno e o professor, que planeja as interações de acordo com a maturação
biológica do aluno. O espaço onde as aulas acontecem deve ser seguro, livre de distrações e o
material oferecido não deve oferecer qualquer perigo.
Nas aulas de música para autistas, as atividades são diversificadas, com metas bem definidas.
Os exercícios são lúdicos, com diversos objetivos, como socializar a criança (através de
brincadeiras de roda, brincadeiras em dupla onde o contato visual é estimulado e valorizado),
desenvolver sua psicomotricidade (através de jogos psicomotores, pedagógicos, canções
utilizando sons do corpo, manuseando instrumentos musicais), a linguagem (através de jogos
cênicos, contação e organização de histórias cantadas com figuras associadas, jogos de
tabuleiro), dentre outros. Brincando, a criança associa gestos e movimentos a conceitos musicais
mais abstratos, aprende regras sociais, aumenta sua expressividade e descobre o mundo de
forma agradável. Além disso, descobrimos através das brincadeiras, os interesses e
necessidades individuais da criança, o que é de suma importância, pois através destas
descobertas, as pessoas que interagem com o autista poderão utilizar estes interesses como
temas para desenvolver conteúdos específicos. Exemplo: muitos autistas demonstram interesse
por animais, dinossauros, outros preferem carrinhos, trens, etc. O professor geralmente percebe
estes interesses e utiliza nas aulas, pois a motivação é essencial para a construção da
aprendizagem de diversos conteúdos.
A música é uma arte extremamente acessível a todas as classes sociais. As famílias também
podem estimular seus filhos em casa através da música. Existem músicas sobre qualquer tema,
para trabalhar diversos conteúdos. É necessário, porém, muita pesquisa, dedicação e muita
observação por parte da família em relação à criança, no sentido de descobrir os interesses dela,
para fazer com que ela se interesse em interagir com as propostas. Se a criança gosta de pular,
procure músicas que estimulem os movimentos corporais. Se a criança demonstra interesse por
instrumentos musicais, compre tamborzinhos, clavas, chocalhos e toque com ele, acompanhando
diversos estilos musicais. Se ele gosta de brincar com a bola, ligue o som com uma música que
ele gosta e brinque de bola com ele olhando nos olhos e toda vez que ele olhar nos seus olhos,
comemore com muita animação. Sabemos o quanto é difícil para o autista o contato visual,
portanto, devemos criar atividades que estimulem o desenvolvimento desta habilidade.
Brincar com a música, é muito mais do que diversão. É uma linguagem essencial, onde a criança
aprende a se expressar melhor e descobrir o mundo. Ela pode ser a ferramenta que fará grande
diferença no desenvolvimento e na qualidade de vida da criança autista. A música está disponível
a todos e é muito poderosa. Que tal experimentar?

Autor: Zuleid Dantas Linhares Mattar
Fonte do artigo:Pediatra Online (www.pediatraonline.com.br)

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